quinta-feira, 1 de outubro de 2015

CORNÉLIO PROCÓPIO NA MEMÓRIA AFETIVA DO ESCRITOR JAIR FERREIRA DOS SANTOS



Projeto EVOCAÇÕES DO PASSADO: MEMÓRIAS DE PROCOPENSES 

 

Jair Ferreira dos Santos, funcionário do Banco do Brasil (aposentado), é também escritor premiado (poesia, ficção, ensaios). Nascido em Cornélio Procópio em 30 de outubro de 1946, radicou-se no Rio de Janeiro há mais de quarenta anos. Formado em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com forte influência humanística em sua formação, presenciou e narrou diversos acontecimentos relevantes para a construção da memória de nossa cidade.

 

Enfocou pessoas que compunham a atmosfera cultural procopense nos anos de 1950 e 1960. Foram citados, da ZYR5, Rádio Cornélio Procópio, Ciro Tucunduva, Marcos Alberto e Mercedes Pavani, atriz (em radionovelas) e cantora. Ressaltou que no radioteatro muitos atores eram amadores e que nos feriados religiosos as rádios transmitiam música clássica (cultura letrada), o que também acontecia nos inúmeros saraus realizados nas casas das pessoas, que mesclavam o clássico e o popular. A emissora de rádio era um importante meio de difusão cultural, que alcançava também a elite intelectual, devido à leitura de poemas e crônicas, comentários de livros e novelas com falas literárias. Vale lembrar que a televisão só “entrou” realmente em C. Procópio quase nos meados de 1960, e como os aparelhos de TV eram caros, grande parte da população reunia-se nas praças Brasil e Botafogo (Cel. Francisco Moreira da Costa), onde havia aparelhos, para assistir à programação da TV Coroados de Londrina.


 Na ZYR5, apresentaram-se grupos como o Regional do Cristalino, do qual faziam parte, além dos músicos liderados pelo maestro e violonista Cristalino Ferreira (pai do entrevistado), o cantor Moura e sua mulher, e eram usados instrumentos como piano, cítara, violão e bateria. Seu repertório musical era composto por samba, marcha, fox, baião e xote. O informante destacou também a importância dos locutores de futebol e dos inúmeros programas de auditório, do qual o mais renomado era o do radialista Adelzon Alves, que depois se transferiu para o Rio de Janeiro, trabalhando na Rádio Globo, na Rádio Nacional e na Rádio MEC.
 Jair Ferreira enfatizou, para a cultura da cidade, o papel dos professores de música dos conjuntos de rock (seus irmãos Carlinhos e José Luiz foram membros de vários e hoje são empresários de sucesso - donos da empresa Meteoro, em S. Paulo) e das orquestras, como a Tangará, da qual participavam os músicos Sebastião Cunha, Ubirajara Medeiros e José Marques Godinho (o crooner). Lembrou também do sucesso de um típico representante da cultura de massa, o Tião da Mulinha, que fazia a alegria da gurizada, e do músico americano Booker Pittman, que morou na zona do meretrício procopense, e recentemente foi tema de um filme; do Salvador, que tocava trompete; e do Zelão (José Ângelo) Sottile, advogado dublê de músico. Ainda fazem parte de sua memória afetiva e foram citados como locais de disseminação cultural e de entretenimento o Colégio Estadual Castro Alves, no qual estudou, e seus excelentes professores; a Aliança Francesa (com as professoras Martha Dequêch e Lelita Martens de Oliveira) ─ que representava a cultura letrada, em oposição à cultura de massa, “americanizada”; o Colégio Nossa Senhora do Rosário (o Coleginho das irmãs), que possuía um Conservatório Musical, e o Salão Dom Bosco (Paroquial), local de apresentações de piano, de ballet e de peças alegóricas, além de festivas quermesses e bailinhos; os Cines Avenida e São Luiz, com grande público, e que funcionavam como ponto de encontro dos jovens, que depois iam para o footing na Praça Brasil. Destacou que os parques de diversão e os circos, esperados ansiosamente, eram montados no pátio da estação ferroviária (onde havia uma enorme paineira), que, além dos números costumeiros tinham apresentações teatrais, atraindo toda a cidade, assim como as famosas quermesses, nas escolas e diferentes salões, com bandas, jogos de víspora, correio elegante, comes e bebes, e sorteios.
O entrevistado mostrou em seu discurso um saudosismo enternecido pela cidade na qual passou sua juventude e onde conserva grandes amigos.

REFERÊNCIA

SANTOS, Jair Ferreira dos: depoimento [fev.. 2012]. Entrevistadores: Marilu Martens Oliveira, Luiz Adriano Morganti, Luciana Carneiro Hernandes, acadêmicos Joel Leon Slipack, Bárbara Rocha Feltrin e Lucas Siqueira Ribeiro. Cornélio Procópio-PR. UTFPR- CP. Entrevista concedida ao Projeto “Evocações do Passado: Memórias de Procopenses”.