Projeto EVOCAÇÕES
DO PASSADO: MEMÓRIAS DE PROCOPENSES
Jair
Ferreira dos Santos, funcionário do Banco do Brasil (aposentado), é também escritor
premiado (poesia, ficção, ensaios). Nascido em Cornélio Procópio em 30 de
outubro de 1946, radicou-se no Rio de Janeiro há mais de quarenta anos. Formado
em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com forte
influência humanística em sua formação, presenciou e narrou diversos
acontecimentos relevantes para a construção da memória de nossa cidade.
Enfocou
pessoas que compunham a atmosfera cultural procopense nos anos de 1950 e 1960. Foram
citados, da ZYR5, Rádio Cornélio
Procópio, Ciro Tucunduva, Marcos Alberto e Mercedes Pavani, atriz (em radionovelas) e cantora. Ressaltou que
no radioteatro muitos atores eram amadores e que nos feriados religiosos as
rádios transmitiam música clássica (cultura letrada), o que também acontecia
nos inúmeros saraus realizados nas casas das pessoas, que mesclavam o clássico
e o popular. A emissora de rádio era um importante meio de difusão cultural,
que alcançava também a elite intelectual, devido à leitura de poemas e crônicas,
comentários de livros e novelas com falas literárias. Vale lembrar que a
televisão só “entrou” realmente em C. Procópio quase nos meados de 1960, e como os
aparelhos de TV eram caros, grande parte da população reunia-se nas praças
Brasil e Botafogo (Cel. Francisco Moreira da Costa), onde havia aparelhos, para
assistir à programação da TV Coroados
de Londrina.
Na
ZYR5, apresentaram-se grupos como o Regional do Cristalino, do qual faziam
parte, além dos músicos liderados pelo maestro e violonista Cristalino Ferreira (pai do
entrevistado), o cantor Moura e sua mulher,
e eram usados instrumentos como piano, cítara, violão e bateria. Seu repertório
musical era composto por samba, marcha, fox, baião e xote. O informante
destacou também a importância dos locutores de futebol e dos inúmeros programas
de auditório, do qual o mais renomado era o do radialista Adelzon Alves, que depois se transferiu para o Rio de Janeiro,
trabalhando na Rádio Globo, na Rádio Nacional e na Rádio MEC.
Jair Ferreira enfatizou,
para a cultura da cidade, o papel dos professores
de música dos conjuntos de rock (seus irmãos Carlinhos e José Luiz
foram membros de vários e hoje são empresários de sucesso - donos da empresa Meteoro, em S. Paulo) e das orquestras, como a Tangará, da qual participavam os músicos Sebastião Cunha, Ubirajara
Medeiros e José Marques Godinho (o crooner). Lembrou também do sucesso de
um típico representante da cultura de massa, o Tião da Mulinha, que fazia a alegria da gurizada, e do músico
americano Booker Pittman, que morou
na zona do meretrício procopense, e recentemente foi tema de um filme; do Salvador, que tocava trompete; e do Zelão (José Ângelo) Sottile, advogado dublê de músico. Ainda fazem parte de sua
memória afetiva e foram citados como locais de disseminação cultural e de
entretenimento o Colégio Estadual Castro
Alves, no qual estudou, e seus excelentes professores; a Aliança Francesa (com as professoras Martha Dequêch e Lelita Martens de Oliveira) ─ que representava a cultura letrada,
em oposição à cultura de massa, “americanizada”; o Colégio Nossa Senhora do
Rosário (o Coleginho das irmãs), que
possuía um Conservatório Musical, e o
Salão Dom Bosco (Paroquial), local
de apresentações de piano, de ballet e de peças alegóricas, além de festivas quermesses e
bailinhos; os Cines Avenida e São Luiz, com grande público, e que funcionavam
como ponto de encontro dos jovens, que depois iam para o footing na Praça Brasil.
Destacou que os parques de diversão
e os circos, esperados ansiosamente,
eram montados no pátio da estação ferroviária (onde havia uma enorme paineira),
que, além dos números costumeiros tinham apresentações teatrais, atraindo toda
a cidade, assim como as famosas quermesses,
nas escolas e diferentes salões, com bandas, jogos de víspora, correio
elegante, comes e bebes, e sorteios.
O entrevistado mostrou
em seu discurso um saudosismo enternecido pela cidade na qual passou sua
juventude e onde conserva grandes amigos.
SANTOS,
Jair Ferreira dos: depoimento [fev.. 2012]. Entrevistadores: Marilu Martens
Oliveira, Luiz Adriano Morganti, Luciana Carneiro Hernandes, acadêmicos Joel
Leon Slipack, Bárbara Rocha Feltrin e Lucas Siqueira Ribeiro. Cornélio
Procópio-PR. UTFPR- CP. Entrevista concedida ao Projeto “Evocações do Passado:
Memórias de Procopenses”.