segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

UM CIDADÃO PARTICIPATIVO: O RÁDIO ERA AO VIVO COM ELE, LAZÃO - LÁZARO CLÁUDIO FERREIRA (Parte 2)




Pessoa dinâmica e poliédrica, Lazão esteve sempre participando de diferentes Associações da cidade, como o Clube Operário e Recreativo (conhecido antigamente como Puxa-Faca). Informou que era de madeira, seu diretor era o Sr. Arlindo Carvalho Faria. Estava localizado inicialmente no alto da Avenida, onde hoje é o Cristo, e foi o Dr. Reinaldo Carazzai, quando prefeito, quem doou o terreno onde foi construída a atual sede, de alvenaria. Figura marcante também da entidade foi o Sr. Francisco Afonso de Oliveira, o Chiquinho do INPS, que tinha grande orgulho da escola de samba Bambas do Asfalto, na qual Lazão tocou bumbo.
Não se esqueceu das grandes festas juninas procopenses, que aconteceram nos anos de 1960, promovidas pelos grêmios estudantis e pelo SESC. Ficou marcado um casamento caipira realizado na Rádio, que permaneceu no mesmo local por muitos anos: no prédio do Supermercado Tropical, no andar superior. Os noivos e convidados embarcaram no trem de passageiros, em Congonhas, descendo na estação de Cornélio. Subiram então em carroças, dirigindo-se para a Rádio, acompanhados pela população que se divertia, durante o caminho, com fogos e brincadeiras.
Frequentados eram os circos e parques de diversão que aqui aportavam, sendo muito apreciados. Possuíam serviço de alto-falante, por meio do qual eram marcados encontros amorosos (a pessoa era descrita – moça morena, de vestido vermelho, com flor no cabelo -, quando o interessado não sabia seu nome) e oferecidas canções.
Os cinemas São Luiz e Avenida faziam parte da rotina de muitos procopenses. Ressaltou que antes deles houve uma outra casa de espetáculos, na Rua Bahia. As pessoas iam não só ver filmes, mas grandes shows com artistas de destaque como Altemar Dutra, Zé Trindade, Roberto Carlos, Sílvio Caldas e Nelson Gonçalves, que veio para a inauguração da Loja Eletrodisco. E um episódio interessante relatado foi o “enterro” simbólico dos dois cinemas, pelos estudantes, que clamavam por uma reforma dos mesmos e por melhor programação, visto que passavam filmes antigo, arrebentados, além de inúmeras pornochanchadas. Houve, inclusive, um apedrejamento do Cine São Luiz por causa disso.
Lazão, como grande parte dos munícipes, era fã do Esporte Clube Comercial de C. Procópio, campeão paranaense de futebol, em 1961, e cujos atletas inscreveram seus nomes no panteão de heróis procopenses (Dirceu Funari, Vitão, Vovô – Casagrande-, Pedrinho Matias), no qual também figura o pessoal do basquetebol: as meninas (As Cegatti - Cleide, Nadir e Clair; Evanira Bassanezzi, Ilza Siloto, Cida, Ione Carvalho) e os rapazes (Orlandinho e João Luiz Canonico; os irmão Poli: Jarbas, Sérgio e Celso; Dinho (Nivaldo) Mariucci;  Neizão Mariucci, Bolinha (Evaldo Knoll Júnior); Pinguim (Antônio Silveira Brasil Filho), que arrebataram inúmeros títulos, motivo de orgulho para aqueles que moravam na cidade que chegou a ter os títulos de Capital do Café e  Capital do Asfalto.
Lembrou-se do Sr. Ubirajara Medeiros, nome dado ao estádio Municipal, como homenagem significativa ao seu apoio e incentivo ao esporte amador procopense. Nesse estádio aconteceram inúmeros jogos do Esporte Clube 9 de julho, time de futebol constituído em 12/12/1974 pelo Sr. Laurindo Miyamoto, e do Azul Clube de Cornélio Procópio, dirigido pelo Sr. Severino Bandeira, que iniciou suas atividades em 01/06/1961.
Espiritualizado, Lázaro Cláudio também discorreu sobre diversas instituições religiosas, como o Centro Espírita Redenção, fundado pelos senhores Orestes Gatti e Antônio Augusto de Oliveira (que foi proprietário da Casa Marival – em C. Procópio desde 1937 - e da Tipografia homônima), responsáveis também pela criação e manutenção do Abrigo Bom Pastor, ao lado da Sra. Noêmia Bruno; o Centro Espírita Estrela da Caridade, conhecido como Centro do Sr. Quinzote; a Tenda Espírita Pai João de Aruanda (dela participavam os Srs. Cecílio Pozzi e Gino Soresini, com sua esposa, Dona Penha).
Membro da Maçonaria - Loja Cavaleiros de Malta - desde 1972, o entrevistado comentou que havia um critério rigoroso para a participação na Loja, verificando-se, cuidadosamente, os predicados dos componentes que eram educados filosófica e espiritualmente.
Com conhecimento invejável e uma alegria contagiante, Lazão faz parte da memória de Cornélio, sempre relembrando os áureos tempos e contando histórias saborosas.

Referência
SILVA, Lázaro Cláudio da. Lázaro Cláudio da Silva: depoimento [dez. 2012]. Entrevistadores: Marilu Martens Oliveira, Luiz Adriano Morganti, Roberto Bondarik, Luciana Carneiro Hernandes e Dirceu CasaGrande. Cornélio Procópio – PR: Sala dos Professores de Línguas da UTFPR-CP, 2012. C. Procópio-PR. Entrevista concedida ao Projeto “Evocações do Passado: Memórias de Procopenses”.





UM APAIXONADO PROCOPENSE: O RÁDIO ERA AO VIVO COM ELE, LAZÃO - LÁZARO CLÁUDIO FERREIRA (Parte 1)





Nascido em 1940, no sítio Figueira, Lázaro Cláudio Ferreira, conhecido por todos como Lazão, trabalhou na Casa da Lavoura e depois na empresa Ducci Cereais Ltda. por 45 anos, no setor de contabilidade. Na entrevista dada ao GP EDITEC destaca, dentre suas mais queridas lembranças, as escolas Professor Lourenço Filho (e sua diretora Orliza de Almeida Pitelli), Ginásio Estadual Castro Alves (Diretor Ângelo Mazarotto e professores Gilda Poli, Elvira de Sá e Jorge Shimazaki) e a Escola Técnica de Comércio.
Confessou que duas grandes paixões sempre disputaram seu coração: sua esposa Helenir (que conheceu romanticamente, instigada pela poesia lida por ele ao microfone) e o rádio, para o qual entrou por volta de 1960, fazendo programas voltados ao público estudantil, patrocinados pela UESP- União dos Estudantes Secundários Procopenses, da qual fazia parte. Na época eram diretores da entidade Omar José Baddauy e Erasmo Garanhão, sendo que sua sede era uma sala do edifício Ramon Lopes. Fazia grande sucesso entre o público o Grande e mentiroso Jornal Falido, com seu lado humorístico, na ZYR5, Rádio Cornélio Procópio, depois ZYJ210.
Desse tempo, de programas ao vivo, e com a rádio instalada no alto de um prédio na rua Benjamin Constant, quando as pessoas subiam 25 degraus para irem até lá, Lazão nominou os seguintes colaboradores: Jaime Camacho, Maurílio de Souza (Fininho), Luiz Fernandes Pires Filho, Wilson Jacobson (técnico de som). Também faziam enorme sucesso os colegas de trabalho Waurides Brevilheri (programas esportivo e sertanejo), Hélio Claudino (esportes), Candido Souza, Francisco Arrebola, Mercedes Pavani (programa Ave-Maria) que também era radioatriz, ao lado de Mário Lamberti e Zote (o Tánakára, um japonês). Destacou a atuação na área artística do Tião da Mulinha, figura folclórica da cidade, e do Sr. Orlando Senise, cuja marca registrada, como cantor, era Chão de estrelas, que emocionava os ouvintes.
Segundo o entrevistado, o rádio era cultura e foi uma grande escola, pois exigia agilidade e criatividade, dando informações como nome da música, autor, cantor, dados biográficos, o que deixou de ser feito com os enlatados.  Quase tudo era realizado ao vivo, com exceção no período da ditadura militar: com a censura prévia, os programas eram gravados antecipadamente. E recordou com saudade dos programas que fazia, principalmente do intitulado Noite da saudade, aos sábados, das 21h30 até meia noite, por mais de 30 anos, e do Encontro sertanejo, de segunda à sexta, às 18h, do qual participou inúmeras vezes Maria José Muller, a Zezé Cuqui, esposa do jornalista Ataíde Cuqui, que, como convidada especial, cantou desde que tinha oito anos até os catorze anos, aproximadamente.
Lazão emocionou-se ao abordar um acontecimento funesto de grande repercussão, do qual o rádio foi partícipe: a Chacina da Cadeia ou Caso Creuzinha, em junho de 1963.  Hélio Claudino, pertencente à Rádio Cruzeiro do Sul (na qual Lazão havia ingressado por volta de 1962), entrevistou Sebastião, o “tarado”, que havia estuprado e assassinado a menina de cinco anos que ficou conhecida como Creuzinha, colocando no ar, por volta das 15 horas, o depoimento colhido. A população revoltada quis linchá-lo e houve mortos e feridos, no confronto com os policiais, tendo, conforme Lazão, o Sr. José Roquete - que não era de Cornélio - levado um tiro no braço. A respeito de  tal  fato cabe, mais uma vez, uma reflexão sobre o chamado “”Quarto Poder”, aquele da mídia, polêmico e tão bem abordado em filmes como: A montanha dos sete abutres, A primeira página, Boa noite e boa sorte, Cidadão Kane, O preço de uma verdade, Frost/Nixon e Intrigas de Estado.

Referência
SILVA, Lázaro Cláudio da. Lázaro Cláudio da Silva: depoimento [dez. 2012]. Entrevistadores: Marilu Martens Oliveira, Luiz Adriano Morganti, Roberto Bondarik, Luciana Carneiro Hernandes e Dirceu Casa Grande. Cornélio Procópio – PR: Sala dos Professores de Línguas da UTFPR-CP, 2012. C. Procópio-PR. Entrevista concedida ao Projeto “Evocações do Passado: Memórias de Procopenses”.