sexta-feira, 4 de maio de 2018

DA LAVOURA PARA O RÁDIO: JOSÉ LEITE CORDEIRO, SINÔNIMO DE SUCESSO

Andriéli Hilário BARIZÃO
Fernando Henrique Pereira
Profa. Ma. Sônia Maria Rodrigues
Profa. Dra. Marilu Martens OLIVEIRA







A Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Cornélio Procópio (UTFPR-CP) propicia, para os moradores da cidade, o Projeto Evocações do Passado: Memórias de Procopenses, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa EDITEC (Educação em Diálogo: Sociedade, Arte e Tecnologia), que visa resgatar histórias e acontecimento locais. Busca-se, por conseguinte, registrar, com a presente investigação, metodologicamente calcada na história oral, o passado de Cornélio Procópio e de pessoas representativas da comunidade, visto que poucos registros existem a respeito. Estabelecendo-se um recorte nas pesquisas efetuadas, serão apresentados fatos da vida do radialista José Leite Cordeiro, famoso na região norte paranaense, e proprietário da Rádio Graúna FM.

O escolhido para foco do presente relato foi o empresário e comunicador pernambucano, e procopense de coração, José Leite Cordeiro, o qual informou que, cronologicamente, as primeiras rádios procopenses foram ZYR5 - Rádio Cornélio Procópio e Rádio Cruzeiro do Sul (depois Rádio Educadora).

Logo o entrevistado lembrou que antigamente as concessões de estação de rádio eram doadas pelo governo, para deputados ou pessoas engajadas na política, e que hoje em dia as concessões são compradas. Disse também do período tenebroso que foi a ditadura militar (1964 a 1985), quando as emissoras tinham que enviar à Polícia Federal, em Londrina, antecipadamente, a programação (censura prévia).

E pesquisa como esta, realizada com Zé Leite, como é conhecido, que tem como fundamento o estudo de história oral, deve ter, como princípio básico, a formatação e realização de entrevistas, levando em conta diferentes aspectos, para a operacionalização das mesmas.

Realizada a entrevista com o radialista, jornalista, comunicador e ex-vice prefeito José Leite Cordeiro, atual dono da Rádio Graúna FM, da cidade de Cornélio Procópio/ PR, foi possível compreender um pouco mais sobre sua trajetória de vida frente à evolução dos meios de comunicação, em especial, do rádio. Ze Leite chegou em Cornélio no ano de 1952, com apenas um ano e meio de idade. De família humilde, trabalhou na lavoura, foi engraxate, garçom, vendedor de tecidos, locutor de rádio, finalmente tornando-se um grande empresário na área da comunicação.

Contou que as lojas que patrocinavam programas de rádio foram o impulso inicial para que entrasse para o ramo, visto que elas mantinham os programas e ele, por ser balconista/vendedor, era indicado para ser também o locutor, tudo tendo começado com programas sertanejos. Ele era o Nhô Zé! Fez muito sucesso o programa denominado Buri no Sertão. Casado com a hoje também comunicadora Claudete Cordeiro, ele teve que fazer outro programa de rádio buscando complementar a renda para arcar com seu aluguel.

Nesse período trabalhou com o amigo Luiz Antonio Morganti, em um programa chamado Brasil bem brasileiro, tendo realizado seus anos de aprendizagem em rádio ao lado de Waurides Brevilheri, entrando, assim, de fato, para os meios da comunicação e vivendo apenas de trabalhos radiofônicos. Destacou, entre seus inúmeros companheiros de jornada, além dos já nominados, Gabriel dos Santos, Adelzon Alves, Titio Tarcísio, Hélio Claudino e Nhô Bigode.

A grande virada em sua vida aconteceu em janeiro de 1983, quando surgiu a oportunidade de comprar a Rádio Graúna FM. Naquele tempo, as estações de FM eram designadas como sendo “Bichos de 7 cabeças”, pois não se acreditava nelas e os próprios aparelhos de rádio só vinham com as faixas de AM. A Graúna FM teve sua concessão em 1978, sendo ela a segunda no Estado do Paraná, e entrou no ar em 6 de janeiro de 1980. Ressaltou, o entrevistado, que a população quase não ouvia FM, por se tratar de uma emissora mais elitizada, voltada para jovens e pessoas com um maior nível de cultura, tocando predominantemente música estrangeira e MPB. Contudo, em comparação com a estação AM, a FM já apresentava uma qualidade de som superior, e Zé Leite sempre acreditou na rádio popular, na rádio do “povão”, sendo que a sua emissora foi a primeira FM a tocar música sertaneja, no que foi muito criticado. O depoente relatou ainda que após popularizar a emissora que havia adquirido, conseguiu maior público (até então só tinham um anunciante: a Coprocafé) e hoje as rádios AM estão prestes a ser extintas.

Na trajetória do rádio, disse que inicialmente se trabalhava com programas de auditório, radionovelas, com cartas e telefonemas de ouvintes, fitas de rolos, gravadores grandes que tinham pouca potência de alcance. Hoje a tecnologia já se faz presente, pois os processos se computorizaram, entraram as redes sociais como meios de comunicação entre estações e ouvintes, e em termos de potências de transmissões, se tem um alcance em sua programação muito superior ao que se tinha antigamente.

Destacou que seu filho Allison é o diretor artístico da rádio, visto que realizam inúmeras apresentações, com artistas famosos como Rita Lee, João Paulo e Daniel, Chitãozinho e Xororó, Roupa Nova, Luan Santana, entre outros, muitos tendo se tornado verdadeiros parceiros da emissora, na qual também trabalha a filha Renata, sendo que apenas a filha Andressa se desviou do mundo do rádio, atuando como psicóloga. Referências
CORDEIRO, José Leite. José Leite Cordeiro: depoimento [abr. 2016]. Entrevistadores: Rubia Souza Pimenta de Pádua, Sônia Maria Rodrigues, Joel Leon Slipack, Andriéli Hilário Barizão, Marilu Martens Oliveira. Cornélio Procópio – PR: Rádio Graúna, 2016. C. Procópio-PR. Entrevista concedida ao Projeto “Evocações do Passado: Memórias de Procopenses”.

SR. ISMAEL REGHIN, UM DESBRAVADOR: PROCOPENSE DE CORAÇÃO E DE ATITUDES! (Segunda Parte)

Profa. Dra. Marilu Martens Oliveira
Profa. Ma. Luciana Carneiro Hernandes



Apaixonado pela terra vermelha que conheceu em nossa região, o Sr. Ismael Reghin, de prodigiosa memória, sempre esteve envolvido em movimentos sociais e políticos que visavam ao progresso da cidade que escolheu para formar sua família. Cidadão engajado, foi presidente do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), criado no país em março de 1966, que abrigava os opositores à ditadura militar vigente. Durante muito tempo nosso entrevistado participou ativamente de tudo que acontecia em Cornélio, fazendo parte do diretório do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

Os anos cinzentos da ditadura militar também foram lembrados por ele, quando houve muita perseguição injustificada, afirmando que foi taxado de comunista porque era contra as injustiças sociais, comungando das ideias propagadas pela encíclica papal Rerum Novarum e favorável às conquistas trabalhistas. Contou também que aqui em Cornélio fizeram parte dos denunciados para o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) grandes amigos seus, destacando Dr. Waldyr Cunha, Erasmo Garanhão, os irmãos Mozart e Hernani Vallim de Oliveira, o promotor Dr. Paulo dos Santos Carrilho, o médico Danton Novaes e o jornalista Henrique Muller.
Mais recentemente, Sr. Ismael fez parte de um grupo (integrado pelo prefeito Hermes Rodrigues da Fonseca Filho, sua chefe de gabinete professora Lelita Martens de Oliveira, secretária estadual da Educação Gilda Poli, professor Altevir Villa, entre outros) que lutou para trazer para a cidade o Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET) - hoje Universidade Tecnológica Federal do Paraná – porque sempre acreditou no ensino técnico como escada para os menos favorecidos conseguirem uma vida mais digna.
Sr Ismael Reghin- Gilda Poli) e Lelita Martens de Oliveira: liderados pelo Prefeito Hermes Rodrigues da Fonseca “batalharam” pela vinda do CEFET - Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (hoje Universidade Tecnológica) para Cornélio.


Também a área esportiva atraiu o interesse do depoente, que foi atleta do Esporte Clube Comercial. Disse que anteriormente a esse Clube houve um time, o Operário, por volta de 1938, 1940, e que seu presidente foi o médico Oscar Dantas. Citou grandes embates esportivos entre o Comercial e o Independência, time presidido pelo Sr. Pedro Mariucci. Destacou ainda o honroso Esporte Clube Azul Clube, liderado pelo Sr. Severino Bandeira, e a doação, pela família Seugling e conseguida pelo sr. Ubirajara Medeiros, do terreno onde hoje é o campo de futebol da UTFPR, anteriormente conhecido como “campo do Comercial”.

Sr. Ismael corroborou o orgulho que todos tinham pelo time do coração dos procopenses – o glorioso Comercial - cujo técnico era o Américo, e que permaneceu invicto por 58 partidas, tendo sido campeão paranaense. Acrescentou que, na época, o profissionalismo era diferente: os jogadores tinham outros empregos. Dirceu Funari, por exemplo, grande ídolo, veio de Assis e trabalhava em um banco, a exemplo do Garoto, o qual sempre se destacava nas partidas, assim como Vitão.
Outros procopenses ilustres também impulsionavam o futebol, em nossa cidade, destacando-se Ubirajara Medeiros, Jader Silva Correia, Nino Gomes, Vitorino Gomes Henriques,  Durval Albino, Minoro Miyamoto (deputado federal por Cornélio: 1963-1971 e 1974-1979) que, em parceria com o entrevistado, trouxe o time do Palmeiras para jogar em nossa cidade, disputa que contou com a presença de 50.000 pessoas.
Portanto, uma “vida bem vivida”, parafraseando Neruda, foi a do Sr. Ismael Reghin, excelente pai de família e cidadão procopense, que sempre esteve imbuído do espírito de luta em prol daquilo em que acreditava e procurando beneficiar nossa comunidade. Um cidadão a ser lembrado!

Sr. Ismael e família
REFERÊNCIA
REGHIN, Ismael. Ismael Reghin: depoimento [abr. 2013]. Entrevistadores: Leda Maria Dalla Costa, Marilu Martens Oliveira, Luciana Carneiro Hernandes. Cornélio Procópio – PR: residência do entrevistado (Av. Minas Gerais), C. Procópio, 2013. C. Procópio-PR. Entrevista concedida ao Projeto “Evocações do Passado: Memórias de Procopenses”.

SR. ISMAEL REGHIN, UM DESBRAVADOR: PROCOPENSE DE CORAÇÃO E DE ATITUDES! (Primeira Parte)

Profa. Dra. Marilu Martens Oliveira
Profa. Leda Maria Dalla Costa
Profa. Ma. Luciana Carneiro Hernandes




Ismael Reghin, um desbravador, pois, nascido em 1926, aportou em Cornélio Procópio em 1930, para acompanhar seu pai, João Reghin, que já estava aqui desde os idos de 1927. Veio pela estrada rodoviária de Assis, visto que a estrada de ferro, até então, terminava na cidade de Cambará. O menino nascido em Varginha, MG, estabeleceu raízes na antiga Capital do Café, casando-se com a querida dona Dedé (Adélia Reghin), constituindo uma linda família: Cibelle, Liegge, Viviane, João e Ismaelzinho (Maete).
Sr. Ismael contou, com saudade, que a estrada estava aberta e muitos pioneiros transitaram por ela porque a Fazenda Santa Filomena, dos Matarazzo, situada no Paiolão, precisava de 300 famílias para nela labutarem. Acrescentou que o distrito de Congonhas pertencia à gleba dos Barbosa, sendo um ano mais velho que nossa cidade, a qual estava na Gleba Laranjinha, do Coronel Cornélio Procópio. Um detalhe interessante é que as estradas eram feitas nas cabeceiras das fazendas, por causa do barro.
Morador da roça, no bairro Tangará –CP, estudava em um rancho de coqueiro, chão de terra, e ainda no tempo da palmatória e de colocar banquinho na cabeça, como castigos. Seu primeiro professor foi o Chico Preto, tendo sido também aluno da dona Norita Dorini, que o preparou para o temido exame de admissão ao ginásio. Sua vida é um exemplo, porque além de muito estudo, trabalhava (trazia leite para a cidade) e chegava em casa por volta das 21h. Como tudo era precário, nosso entrevistado relatou que continuou seus estudos em Botucatu, SP. Posteriormente realizou inúmeros cursos, formando-se em Contabilidade, Economia e Direito, tendo residido, devidos às suas atividades empresariais, também em Umuarama.
Frequentava a igreja católica da Praça Brasil e o padre Antonio vinha de Londrina, a cavalo, para rezar as missas. A paróquia foi criada em 1934 e todos ficaram muito felizes pela conquista, assim como pela separação de Bandeirantes, em 1938, quando Cornélio se tornou município.
Destacou, dentre os primeiros profissionais de Cornélio: os médicos Oscar Dantas e Roberto da Rocha Leão; o dentista Salomão Lomônaco e o prático Sotille; seu tio Francisco Reghin, lançador de impostos; o engenheiro nortista Diógenes Alves Cabral; a parteira Joana (Joanela) Andretta; o eletricista Francisco Grigoravicius (mais tarde vereador). Ressaltou que a cidade chegou a ter 18 vereadores, quando o correto seria por volta de sete, oito, e que, antigamente, ser vereador era uma honra: não havia pagamento pela função.
Recordou que no Calçadão, na esquina, foi construído o primeiro posto de gasolina, do Sr. Orestes Gatti, e que quando o asfalto chegou às ruas, a Avenida XV de Novembro teve as casas aterradas porque ficavam penduradas. Também foram os primeiros estabelecimentos comerciais a Farmácia e também a Serraria do Sr. Ferrúcio Dalla Costa; a Casa Marival e a Tipografia do mesmo nome (da família Vallim Oliveira); a Casa Zamariam (pertencente à família homônima); o armazém do Sr. Armando Deutsch; a Casa Coimbra; os estabelecimentos do Sr. Kitagawa, do druso Sales Nege e do Sr. Amado Alabipe.
Dentre as diversões da época, destacava-se o cinema e o primeiro, que era mudo, funcionou na Rua Bahia, sendo seu proprietário o Sr. Newton Moreira. Posteriormente, surgiram o Cine São Luiz, bastante frequentado, bem como o Cine Avenida que teve seu nome trocado para Cine Cornélio. As pessoas ouviam muito o rádio e também iam às festas: quermesses, bailes e jantares promovidos por diversas entidades, como o Rotary Club de C. Procópio, do qual Sr. Ismael foi membro, apresentado pelo Sr. João Ataliba de Resende. E algo era até bastante comum: as brigas nos bailes, provocadas por ciúmes das mulheres, pois o número de damas era menor que o de cavalheiros. Também ficava na Rua Bahia o primeiro Clube Recreativo, e por volta de 1938 existia um outro, atrás da Avenida XV e do cinema São Luiz.
O entrevistado relatou que havia muitos valentões e mortes eram comuns, naqueles anos, sendo que o porteiro do clube, no Baile do Município, foi assassinado, assim como foi tocaiado e morto o indivíduo conhecido como Fumaça, valentão que gostava de brigas.
Poucas pessoas possuíam carro, então a rodoviária era bastante frequentada. A primeira foi mais um “ponto de parada”: era na Rua Paraná, no Bar do Livino Viana, que tinha luz, daí a opção. Havia então três bares, sendo bastante conhecido o Bar do Zanoto, que foi vendido ao Sr. João Reghin. Posteriormente a Rodoviária passou a funcionar na esquina da atual Rua Massud Amin com a Marechal Deodoro, indo mais tarde para o mesmo local do antigo Mercado Municipal, entre a Marechal Deodoro e a Av.  Minas Gerais, para ficar, depois, onde está hoje, por uma questão de logística: trânsito mais calmo.
Com o crescimento urbano, surgiram novidades: a estrada de ferro, que deveria passar por Sertaneja, foi desviada para Cornélio; a edificação da Santa Casa de Misericórdia, em terreno doado pela família Seugling, e graças ao movimento encabeçado por um grupo político, do qual faziam parte o pai do Sr. Ismael e o Sr. João Ataliba de Resende; a construção de um campo de aviação, onde hoje está o Coleginho - Colégio Nossa Senhora do Rosário -, tendo como primeiros pilotos os Srs. Anélio Viecelli e Orestes Gatti. E também as companhias de aviação comercial se fizeram presentes -  RETA (do Anélio), REAL, VARIG, Aerovias Brasil – na cidade que se desenvolvia impulsionada pelo ouro verde, o café. Assim é que mais tarde foi instalada a Companhia Iguaçu de Café Solúvel, graças ao empreendedorismo de um grupo de procopenses.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

O ESPORTE CONGREGANDO E FORMANDO CIDADÃOS





                                                      Profas.  Zenaide Aparecida Negrão e Marilu Martens Oliveira
 

Foto do time campeão do paranaense em 61, Em pé, da esquerda para
direita, o técnico Raimundo, Asa, Dirceu Funari, Bocage, Vitão,
Mourão, Pedrinho, Pinduca e Rolando Marussi (presidente do clube).
Agachados: Vitinho, Garoto, Villanueva, Nelsinho, Silvinho e Torquato.

           No desenrolar das investigações sobre a Memória de Procopenses, muitas revelações nos foram feitas. Algumas já foram publicadas neste Blog; outras, dada à repercussão e curiosidade despertadas na sociedade de modo geral, já foram divulgadas pela imprensa regional e em Anais de eventos científicos.
          Mas uma História não se faz apenas com casos investigativos que despertam a comoção popular. Faz-se também com lembranças de pequenos desconhecidos que se fizeram heróis, que representaram o ideal e o sonho de várias gerações. Assim foi o esporte, em Cornélio Procópio, nas décadas de 60 e 70, do século 20.  A maioria dos entrevistados, nesta pesquisa, cita a importância e o que representaram, então, para a sociedade o futebol (de campo e o futsal), o voleibol e, principalmente, o basquete (masculino e feminino) procopenses.
          A cidade parava quando jogavam os nossos clubes profissionais de futebol: Esporte Clube Comercial, Nove de Julho e Azul Clube. A rivalidade entre as torcidas movimentava os meios de comunicação, o comércio, as escolas. Havia um bar, o Nick Bar, onde os rapazes se reuniam, pois na época as mulheres não frequentavam bares, e as discussões em defesa do seu time predileto se tornavam acaloradas. Também o bar Clipper e a Vitamina Real eram pontos para os amigos “jogarem conversa fora”. Todos eram técnicos em potencial!

Fotomontagem de Sergio Poli

          Segundo o professor ANTONIO PEREIRA DO BONFIM, a cidade tinha uma equipe notória de atletas: Garoto, Vitão, Pedrinho, Dirceu Funari, Bocage, Arnoldo, Nelsinho, Silvinho, sendo que alguns foram, inclusive, requisitados pelo Santos Futebol Clube: mas os rapazes tinham outros “objetivos” na vida e não chegaram a ir jogar pelo Peixe.  Quando em 1961 o Esporte Clube Comercial foi campeão Estadual, o time desceu a avenida XV de Novembro, consagrado pelos cidadãos. Aquele orgulho da natureza humana, que nos faz partícipes da vitória, rompeu rivalidades e toda cidade homenageou os campeões.  Não se pode esquecer também de outro expoente esportivo: o basquetebol. Essa modalidade foi referência estadual e mesmo nacional. Havia muita rivalidade entre os times de cidades vizinhas, como Bandeirantes e Uraí, nos Jogos Abertos do Paraná. A equipe procopense foi campeã de basquete nos anos de 1960 e 1965.  Jogadores como JOÃO LUIZ GOMES CANÔNICO, EVALDO KNOLL FILHO (BOLINHA), NIVALDO MARIUCCI (DINHO), JOÃO BASSANEZZI (BIQUINHA), NEI MARIUCCI (NEIZÃO), ANTONIO SILVEIRA BRASIL FILHO (PINGUIM), SÉRGIO POLI, GILBERTO SILOS (BETO), ORLANDO CANONICO (ORLANDINHO), OTÁVIO DIAS CHAVES JUNIOR (CAMBARÁ) são alguns representantes de períodos áureos do nosso basquete.


          Tudo começava com a educação. Os jogadores formavam-se nas quadras das escolas, participavam dos Jogos Abertos do Paraná e dos Jogos Estudantis, e os que mais se destacavam, dentre eles JOÃO LUIZ CANONICO, iam para a seleção paranaense e até para a brasileira disputar outros campeonatos. Assim é que João Luiz é um dos “heróis” da época. Em 1960 foi campeão brasileiro de lance livre – Niterói-RJ. Em 2005 os veteranos, liderados por João Francisco Vilela, fizeram um jantar para homenageá-lo. Chamaram os “aprendizes” ao palco para tirarem uma foto com João Luiz. As pessoas aplaudiram em pé. Foi, segundo Bolinha (Evaldo), emocionante.  E não é para menos: o atleta não pretendia ser professor, porém, ainda bem jovem, já fazia um trabalho de inclusão social, ensinando aos meninos como jogar basquete. Tal gesto não só despertou para o esporte muitos adolescentes com uma condição social equilibrada, mas também reabilitou outros, encaminhando aqueles que não tinham boas perspectivas de vida. Daí a fazer um curso de Educação Física foi apenas uma consequência natural. Hoje deixou os campeonatos, times e organizações, mas ainda treina e participa de eventos esportivos, quando convidado.

Jogos Estudantis do Paraná - Curitiba - Ginásio do Tarumã - 1967
Eraldo, Otacílio, Tavinho, Eto, Joni, Bolinha, Gino, Tunico, Polaco, Tavinho, Tustão.
Basquete do Country Club - 1973

          EVALDO KNOLL FILHO (BOLINHA) fez João Luiz se emocionar muito ao relembrar tais fatos. Companheiro, amigo e discípulo, como se autodenomina, Bolinha nos dá uma lição de humildade e reconhecimento. Adolescente, sonhava jogar futebol mas tinha pouca chance – “era gordinho, cabelo vermelho, pintadinho”. Via João Luiz ensinando os meninos a jogar basquete e recorda que foi o parceiro que o colocou numa quadra e acreditou nele. Aos 15 anos sagrou-se campeão de basquete. Não foi um grande estudante: o “tal do basquete atrapalhou seus estudos,” conforme lhe dizia sua mãe D. Ida, mas ele se realizou como esportista. E relembra a importância dada ao esporte: foi Diretor Esportivo do Grêmio Estadual Castro Alves, solenidade cívica, de terno e gravata no momento da posse. Atualmente, é Presidente da Associação Procopense de Basquete.

Amigos do basquete -  Grêmio Vilela -  2014

“Recordar é viver” já diziam Aldacir Martins e Macedo numa marchinha de carnaval. Este é o trabalho que o Grupo de Pesquisa EDITEC faz para resgatar a Memória de Cornélio Procópio. É preciso dar visibilidade a tantos valores muitas vezes esquecidos pela sociedade atual. Quando vemos nossos jovens andando sem um destino certo pelas ruas da cidade, ou se embriagando nos finais de semana por não terem um objetivo mais nobre, uma atividade que seja cultural e/ou saudável, só temos que concordar com a máxima de que “as palavras comovem, mas os exemplos arrastam”. Estão faltando muitos João Luízes, Bolinhas, Garotos, Dirceus e tantos outros atletas que fizeram a glória do esporte procopense, para dar novo rumo ao destino de jovens ávidos por uma vida diferente.


Jogos Estudantis do Paraná - 1962 - Quadra de basquete na Casa dos Estudantes
  
REFERÊNCIAS
BONFIM, Antonio Pereira do. Antonio Pereira do Bonfim: depoimento [set. 2014]. Entrevistadores: Zenaide Aparecida Negrão, Marilu Martens Oliveira, Luiz Adriano Morganti, Amanda Martins Reis, Inês Cardim Bressan. Cornélio Procópio – PR: Sala de Reuniões do GADIR, da UTFPR-CP, 2014. C. Procópio-PR. Entrevista concedida ao Projeto “Evocações do Passado: Memórias de Procopenses”.
João Luiz Canonico: depoimento [set. 2014]. Entrevistadores: Zenaide Aparecida Negrão, Marilu Martens Oliveira, Luiz Adriano Morganti, Amanda Martins Reis, Inês Cardim Bressan. Cornélio Procópio – PR: Sala de Reuniões do GADIR, da  UTFPR-CP, 2014. C. Procópio-PR. Entrevista concedida ao Projeto “Evocações do Passado: Memórias de Procopenses”.
KNOLL FILHO, Evaldo (Bolinha). Evaldo Knoll Filho - Bolinha: depoimento [set. 2014]. Entrevistadores: Zenaide Aparecida Negrão, Marilu Martens Oliveira, Luiz Adriano Morganti, Amanda Martins Reis, Inês Cardim Bressan. Cornélio Procópio – PR: Sala de Reuniões do GADIR, da  UTFPR-CP, 2014. C. Procópio-PR. Entrevista concedida ao Projeto “Evocações do Passado: Memórias de Procopenses”.




segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

UM CIDADÃO PARTICIPATIVO: O RÁDIO ERA AO VIVO COM ELE, LAZÃO - LÁZARO CLÁUDIO FERREIRA (Parte 2)




Pessoa dinâmica e poliédrica, Lazão esteve sempre participando de diferentes Associações da cidade, como o Clube Operário e Recreativo (conhecido antigamente como Puxa-Faca). Informou que era de madeira, seu diretor era o Sr. Arlindo Carvalho Faria. Estava localizado inicialmente no alto da Avenida, onde hoje é o Cristo, e foi o Dr. Reinaldo Carazzai, quando prefeito, quem doou o terreno onde foi construída a atual sede, de alvenaria. Figura marcante também da entidade foi o Sr. Francisco Afonso de Oliveira, o Chiquinho do INPS, que tinha grande orgulho da escola de samba Bambas do Asfalto, na qual Lazão tocou bumbo.
Não se esqueceu das grandes festas juninas procopenses, que aconteceram nos anos de 1960, promovidas pelos grêmios estudantis e pelo SESC. Ficou marcado um casamento caipira realizado na Rádio, que permaneceu no mesmo local por muitos anos: no prédio do Supermercado Tropical, no andar superior. Os noivos e convidados embarcaram no trem de passageiros, em Congonhas, descendo na estação de Cornélio. Subiram então em carroças, dirigindo-se para a Rádio, acompanhados pela população que se divertia, durante o caminho, com fogos e brincadeiras.
Frequentados eram os circos e parques de diversão que aqui aportavam, sendo muito apreciados. Possuíam serviço de alto-falante, por meio do qual eram marcados encontros amorosos (a pessoa era descrita – moça morena, de vestido vermelho, com flor no cabelo -, quando o interessado não sabia seu nome) e oferecidas canções.
Os cinemas São Luiz e Avenida faziam parte da rotina de muitos procopenses. Ressaltou que antes deles houve uma outra casa de espetáculos, na Rua Bahia. As pessoas iam não só ver filmes, mas grandes shows com artistas de destaque como Altemar Dutra, Zé Trindade, Roberto Carlos, Sílvio Caldas e Nelson Gonçalves, que veio para a inauguração da Loja Eletrodisco. E um episódio interessante relatado foi o “enterro” simbólico dos dois cinemas, pelos estudantes, que clamavam por uma reforma dos mesmos e por melhor programação, visto que passavam filmes antigo, arrebentados, além de inúmeras pornochanchadas. Houve, inclusive, um apedrejamento do Cine São Luiz por causa disso.
Lazão, como grande parte dos munícipes, era fã do Esporte Clube Comercial de C. Procópio, campeão paranaense de futebol, em 1961, e cujos atletas inscreveram seus nomes no panteão de heróis procopenses (Dirceu Funari, Vitão, Vovô – Casagrande-, Pedrinho Matias), no qual também figura o pessoal do basquetebol: as meninas (As Cegatti - Cleide, Nadir e Clair; Evanira Bassanezzi, Ilza Siloto, Cida, Ione Carvalho) e os rapazes (Orlandinho e João Luiz Canonico; os irmão Poli: Jarbas, Sérgio e Celso; Dinho (Nivaldo) Mariucci;  Neizão Mariucci, Bolinha (Evaldo Knoll Júnior); Pinguim (Antônio Silveira Brasil Filho), que arrebataram inúmeros títulos, motivo de orgulho para aqueles que moravam na cidade que chegou a ter os títulos de Capital do Café e  Capital do Asfalto.
Lembrou-se do Sr. Ubirajara Medeiros, nome dado ao estádio Municipal, como homenagem significativa ao seu apoio e incentivo ao esporte amador procopense. Nesse estádio aconteceram inúmeros jogos do Esporte Clube 9 de julho, time de futebol constituído em 12/12/1974 pelo Sr. Laurindo Miyamoto, e do Azul Clube de Cornélio Procópio, dirigido pelo Sr. Severino Bandeira, que iniciou suas atividades em 01/06/1961.
Espiritualizado, Lázaro Cláudio também discorreu sobre diversas instituições religiosas, como o Centro Espírita Redenção, fundado pelos senhores Orestes Gatti e Antônio Augusto de Oliveira (que foi proprietário da Casa Marival – em C. Procópio desde 1937 - e da Tipografia homônima), responsáveis também pela criação e manutenção do Abrigo Bom Pastor, ao lado da Sra. Noêmia Bruno; o Centro Espírita Estrela da Caridade, conhecido como Centro do Sr. Quinzote; a Tenda Espírita Pai João de Aruanda (dela participavam os Srs. Cecílio Pozzi e Gino Soresini, com sua esposa, Dona Penha).
Membro da Maçonaria - Loja Cavaleiros de Malta - desde 1972, o entrevistado comentou que havia um critério rigoroso para a participação na Loja, verificando-se, cuidadosamente, os predicados dos componentes que eram educados filosófica e espiritualmente.
Com conhecimento invejável e uma alegria contagiante, Lazão faz parte da memória de Cornélio, sempre relembrando os áureos tempos e contando histórias saborosas.

Referência
SILVA, Lázaro Cláudio da. Lázaro Cláudio da Silva: depoimento [dez. 2012]. Entrevistadores: Marilu Martens Oliveira, Luiz Adriano Morganti, Roberto Bondarik, Luciana Carneiro Hernandes e Dirceu CasaGrande. Cornélio Procópio – PR: Sala dos Professores de Línguas da UTFPR-CP, 2012. C. Procópio-PR. Entrevista concedida ao Projeto “Evocações do Passado: Memórias de Procopenses”.