Profas. Zenaide Aparecida Negrão e Marilu Martens Oliveira
No desenrolar das investigações
sobre a Memória de Procopenses, muitas revelações nos foram feitas. Algumas já
foram publicadas neste Blog; outras, dada à repercussão e curiosidade
despertadas na sociedade de modo geral, já foram divulgadas pela imprensa
regional e em Anais de eventos científicos.
Mas uma História não se faz apenas
com casos investigativos que despertam a comoção popular. Faz-se também com
lembranças de pequenos desconhecidos que se fizeram heróis, que representaram o
ideal e o sonho de várias gerações. Assim foi o esporte, em Cornélio Procópio, nas décadas de 60 e 70, do século 20. A maioria dos entrevistados, nesta pesquisa, cita
a importância e o que representaram, então, para a sociedade o futebol (de campo e o futsal), o voleibol e,
principalmente, o basquete (masculino e
feminino) procopenses.
A cidade parava quando jogavam os nossos
clubes profissionais de futebol: Esporte Clube Comercial, Nove de Julho e Azul Clube. A rivalidade entre as
torcidas movimentava os meios de comunicação, o comércio, as escolas. Havia um
bar, o Nick Bar, onde os rapazes se reuniam, pois na época as mulheres não frequentavam
bares, e as discussões em defesa do seu time predileto se tornavam acaloradas. Também
o bar Clipper e a Vitamina Real eram pontos para os amigos “jogarem conversa
fora”. Todos eram técnicos em potencial!
Fotomontagem de Sergio Poli |
Segundo o professor ANTONIO PEREIRA DO BONFIM, a cidade tinha uma equipe notória
de atletas: Garoto, Vitão, Pedrinho, Dirceu Funari, Bocage, Arnoldo, Nelsinho, Silvinho, sendo que alguns foram,
inclusive, requisitados pelo Santos Futebol Clube: mas os rapazes tinham outros
“objetivos” na vida e não chegaram a ir jogar pelo Peixe. Quando em 1961 o Esporte Clube Comercial foi campeão Estadual, o time desceu a
avenida XV de Novembro, consagrado pelos
cidadãos. Aquele orgulho da natureza humana, que nos faz partícipes da vitória,
rompeu rivalidades e toda cidade homenageou os campeões. Não se pode esquecer também de outro expoente
esportivo: o basquetebol. Essa
modalidade foi referência estadual e mesmo nacional. Havia muita rivalidade
entre os times de cidades vizinhas, como Bandeirantes e Uraí, nos Jogos Abertos
do Paraná. A equipe procopense foi campeã de basquete nos anos de 1960 e 1965. Jogadores como JOÃO LUIZ GOMES CANÔNICO, EVALDO KNOLL FILHO (BOLINHA), NIVALDO
MARIUCCI (DINHO), JOÃO BASSANEZZI (BIQUINHA), NEI MARIUCCI (NEIZÃO), ANTONIO
SILVEIRA BRASIL FILHO (PINGUIM), SÉRGIO POLI, GILBERTO SILOS (BETO), ORLANDO
CANONICO (ORLANDINHO), OTÁVIO DIAS CHAVES JUNIOR (CAMBARÁ) são alguns
representantes de períodos áureos do nosso basquete.
Tudo começava com a educação. Os
jogadores formavam-se nas quadras das escolas, participavam dos Jogos Abertos
do Paraná e dos Jogos Estudantis, e os que mais se destacavam, dentre eles JOÃO LUIZ CANONICO, iam para a seleção
paranaense e até para a brasileira disputar outros campeonatos. Assim é que
João Luiz é um dos “heróis” da época. Em 1960 foi campeão brasileiro de lance
livre – Niterói-RJ. Em 2005 os veteranos, liderados por João Francisco Vilela,
fizeram um jantar para homenageá-lo. Chamaram os “aprendizes” ao palco para
tirarem uma foto com João Luiz. As pessoas aplaudiram em pé. Foi, segundo
Bolinha (Evaldo), emocionante. E não é
para menos: o atleta não pretendia ser professor, porém, ainda bem jovem, já
fazia um trabalho de inclusão social, ensinando aos meninos como jogar basquete. Tal gesto não só despertou
para o esporte muitos adolescentes com uma condição social equilibrada, mas
também reabilitou outros, encaminhando
aqueles que não tinham boas perspectivas de vida. Daí a fazer um curso
de Educação Física foi apenas uma consequência natural. Hoje deixou os
campeonatos, times e organizações, mas ainda treina e participa de eventos
esportivos, quando convidado.
Jogos Estudantis do Paraná - Curitiba - Ginásio do Tarumã - 1967 |
Eraldo, Otacílio, Tavinho, Eto, Joni, Bolinha, Gino, Tunico, Polaco, Tavinho, Tustão. Basquete do Country Club - 1973 |
EVALDO
KNOLL FILHO (BOLINHA) fez João Luiz se emocionar muito ao relembrar tais
fatos. Companheiro, amigo e discípulo, como se autodenomina, Bolinha nos dá uma
lição de humildade e reconhecimento. Adolescente, sonhava jogar futebol mas
tinha pouca chance – “era gordinho, cabelo vermelho, pintadinho”. Via João Luiz
ensinando os meninos a jogar basquete e recorda que foi o parceiro que o colocou
numa quadra e acreditou nele. Aos 15 anos sagrou-se campeão de basquete. Não
foi um grande estudante: o “tal do basquete atrapalhou seus estudos,” conforme
lhe dizia sua mãe D. Ida, mas ele se realizou como esportista. E relembra a
importância dada ao esporte: foi Diretor Esportivo do Grêmio Estadual Castro
Alves, solenidade cívica, de terno e gravata no momento da posse. Atualmente, é
Presidente da Associação Procopense de Basquete.
Amigos do basquete - Grêmio Vilela - 2014 |
“Recordar é
viver” já diziam Aldacir Martins
e Macedo numa marchinha de carnaval. Este é o trabalho que o Grupo de Pesquisa
EDITEC faz para resgatar a Memória de Cornélio Procópio. É preciso dar
visibilidade a tantos valores muitas vezes esquecidos pela sociedade atual.
Quando vemos nossos jovens andando sem um destino certo pelas ruas da cidade, ou se embriagando nos finais
de semana por não terem um objetivo mais nobre, uma atividade que seja cultural
e/ou saudável, só temos que concordar com a máxima de que “as palavras comovem,
mas os exemplos arrastam”. Estão faltando muitos João Luízes, Bolinhas, Garotos, Dirceus e tantos outros atletas que
fizeram a glória do esporte procopense, para dar novo rumo ao destino de jovens
ávidos por uma vida diferente.
Jogos Estudantis do Paraná - 1962 - Quadra de basquete na Casa dos Estudantes |
REFERÊNCIAS
BONFIM, Antonio Pereira do. Antonio
Pereira do Bonfim: depoimento [set. 2014]. Entrevistadores: Zenaide
Aparecida Negrão, Marilu Martens Oliveira, Luiz Adriano Morganti, Amanda Martins
Reis, Inês Cardim Bressan. Cornélio Procópio – PR: Sala de Reuniões do GADIR,
da UTFPR-CP, 2014. C. Procópio-PR. Entrevista concedida ao Projeto “Evocações
do Passado: Memórias de Procopenses”.
João Luiz Canonico: depoimento [set. 2014]. Entrevistadores: Zenaide
Aparecida Negrão, Marilu Martens Oliveira, Luiz Adriano Morganti, Amanda Martins
Reis, Inês Cardim Bressan. Cornélio Procópio – PR: Sala de Reuniões do GADIR,
da UTFPR-CP, 2014. C. Procópio-PR.
Entrevista concedida ao Projeto “Evocações do Passado: Memórias de
Procopenses”.
KNOLL FILHO, Evaldo (Bolinha). Evaldo
Knoll Filho - Bolinha: depoimento [set. 2014]. Entrevistadores: Zenaide
Aparecida Negrão, Marilu Martens Oliveira, Luiz Adriano Morganti, Amanda
Martins Reis, Inês Cardim Bressan. Cornélio Procópio – PR: Sala de Reuniões do
GADIR, da UTFPR-CP, 2014. C.
Procópio-PR. Entrevista concedida ao Projeto “Evocações do Passado: Memórias de
Procopenses”.
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