segunda-feira, 26 de maio de 2014

Artigo apresentado no SICITE 2012- Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica da UTFPR - Curitiba, 7 e 8 de novembro de 2012


UM PASSADO QUE SE TORNA PRESENTE – Projeto Evocações do Passado Memórias de Procopenses
Joel Leon Slipack [GP: Editec/Voluntário] 1, Profa. Dra. Marilu Martens Oliveira [orientador] 2, Lucas Siqueira Ribeiro [colaborador] 3

1COELT/UTFPR, Cornélio Procópio, Brasil

2COELC/UTFPR, Cornélio Procópio, Brasil

3COELT/UTFPR, Cornélio Procópio, Brasil

 Câmpus Cornélio Procópio
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR
Avenida Alberto Carazzai, 1640

joelslipck@hotmail.com, marilu@utfpr.edu.br, lucas_ribeiro7@hotmail.com

Resumo: Ante as transformações sociais e culturais, a história do povo de determinada região que não é registrada de forma documental perde-se conforme as gerações vão se renovando. Com isso surge a necessidade de se registrá-la, antes que ela se modifique e sua veracidade seja comprometida. Segundo Meihy [1], por ser uma história chamada de “tempo presente” é também conhecida como uma “história viva”. O intuito do projeto é promover entrevistas individuais e/ou coletivas com cidadãos que participaram, de modo direto ou indireto, dos eventos pesquisados e recolhendo documentos e imagens de caráter histórico de arquivos pessoais, para dar origem à história coletiva. Desse modo, o registro documental produzido a partir das coletas de dados do Projeto tem a pretensão de ser divulgado principalmente na forma de livro, com um ou mais volumes. Para tanto, terá como embasamento teórico textos de José Carlos Sebe B. Meihy [1], Paul Thompson [2] e Maria Cecília de Souza Minayo [3], que nos levarão a primar pelo rigor científico, pela objetividade e pela clareza, colaborando para a preservação e a construção da história de Cornélio Procópio-PR, dando-se ênfase aos aspectos culturais, esportivos e políticos, assim como aos fatos pitorescos.
Palavras-chave:Historia Oral; Memória; Moradores Antigos; Cornélio Procópio.
Before the social and cultural transformations, the people’s story of a given region, which is not registered in documentary form, is lost as the generations go renewing itself. With this comes the need to register it before it is modified and its accuracy is compromised. According Meihy [1], because the story to be called "preset time" is also known as a "living history". The aim of the project is to promote individual interviews and/or conferences with citizens who participated, either directly or indirectly, of the events surveyed and collecting documents and images of historical character of personal files, to give rise to collective history. Thus the documentary record, produced from data collections of the Project, pretend to be mainly in book form, with one or more volumes. This will require either theoretical basis texts of José Carlos Sebe B. Meihy [1], Paul Thompson [2] and Maria Cecilia de Souza Minayo [3], who will lead us to excel at scientific rigor, objectivity and by the clarity, contributing to the preservation and construction of the Cornélio Procópio’s history, giving emphasis to the cultural, sports and politicians aspects, and also in singular events.
Keywords: Oral History; Memory; Old Residents; CornélioProcópio.

INTRODUÇÃO Documentando via História Oral 


A história oral é uma metodologia de pesquisa moderna, usada para construção de documentos via registros orais [1]. Consiste em realizar entrevistas gravadas com indivíduos ou grupos que viveram ou testemunharam acontecimentos, conjunturas, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. Essas entrevistas fazem parte de um conjunto de documentos de tipo biográfico (memórias, documentos escritos, imagens, autobiografias e outros tipos de registro) que permitem compreender como indivíduos viveram e/ou interpretam acontecimentos e situações,envolvendo um grupo ou a sociedade em geral. Isso torna o estudo da história mais concreto, facilitando a apreensão do passado pelas gerações futuras e a compreensão das experiências vividas por outros.
A história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis vindos não só dentre os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo. Estimula professores e alunos a se tornarem companheiros de trabalho. Traz a história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade. Ajuda os menos privilegiados, e especialmente os idosos, a conquistar dignidade e autoconfiança. Propicia o contato – e, pois, a compreensão  – entre  classes sociais e entre gerações.  E para cada um dos historiadores e outros que partilhem das mesmas intenções, ela pode dar um sentimento de pertencer a determinado lugar e a determinada época. Em suma, contribui para formar seres humanos mais completos. Paralelamente, a história oral propõe um desafio aos mitos consagrados da história, ao juízo autoritário inerente a sua tradição. E oferece os meios para uma transformação radical no sentido social da história (THOMPSON, 1992, p. 44).
A operação prática da história oral é iniciada com um projeto, o qual indicará o sentido que o trabalho deve tomar, prevendo com detalhes, todas as etapas que serão desenvolvidas no decorrer da pesquisa.

A existência de um projeto elaborado é essencial para o bom desenvolvimento da história oral. Todo projeto de história oral deve se iniciar pela determinação dos objetivos e exige uma pesquisa prévia. Antes de se iniciar a organização do projeto, deve-se ler, instruir e preparar o campo de trabalho (MEIHY, 2005, p. 173).
Portanto, somente após prévias informações sobre o tema é que será elaborado o projeto, atentando-se às peculiaridades inerentes a uma investigação que lida com a oralidade. Segundo Meihy (2005), o projeto é sempre composto por duas partes complementares: os fundamentos temáticos e teóricos, além da parte operacional. Na primeira, é preciso estabelecer a temática e o título do trabalho, apontando-se para uma direção, mostrando-se o ramo da história de que se irá tratar. Destacar o tema é fundamental. Pode-se admitir uma ou mais justificativas, ficando clara a relevância do projeto e as explicações que amparam o assunto. Isso é necessário para evitar trabalhos que tratem as entrevistas apenas como meras entrevistas, que, após a gravação, terão sua finalidade esgotada. Precisam ser definidas hipóteses de trabalho e também o grupo a ser entrevistado, estabelecendo-se parâmetros para identificação, dos indivíduos que serão entrevistados. “Devem ser feitos cortes racionalizados, tais como: abordar só as mulheres ou só os homens; apenas os mais velhos; os que, nos casos de migração, saíram primeiro e receberam depois os outros” [1]. Foi assim que optamos pelos moradores antigos de Cornélio Procópio, que vivenciaram o crescimento da cidade e, concomitantemente, participaram ou souberam de fatos nela ocorridos.
Ressaltamos que há vários tipos de entrevista, classificadas de acordo com uma forma de organização ─ sondagem de opinião, semiestruturada, aberta ou em profundidade, focalizada, projetiva [3] ─ sendo nossa opção a semiestruturada.

METODOLOGIA 


A parte operacional tem início com a realização das entrevistas, que devem ser agendadas. É necessário, então, esclarecer ao entrevistado os aspectos da pesquisa e aquilo que será tratado. No ato da entrevista, antes do início da sessão, é preciso deixar claro que a gravação será conferida e nada será publicado sem sua autorização. É de fundamental importância que todos os equipamentos sejam testados previamente e, sempre que possível, o ambiente onde a entrevista for realizada deve ser tranquilo e agradável. Este é o “trabalho de campo”, que se segue à fase exploratória da pesquisa. Para Minayo, “o trabalho de campo deve ser realizado a partir de referenciais teóricos e também de aspectos operacionais” [3]. Alerta ainda que, por se tratar de pesquisa social, não se trata de campo neutro, transparente, os pesquisadores interferindo no conhecimento da realidade.
Após a execução da entrevista, passa-se do estágio da gravação oral para o do código escrito. Há pessoas que defendem a transcrição absoluta, registrando-se erros de linguagem e até mesmo ruídos (telefone, relógio, latidos, miados, chiados, murmúrios, risos). Outras defendem que as ideias, conceitos e emoções contidos são mais importantes que a palavra em si. “O que deve vir a público é um texto trabalhado no qual a interferência do autor seja clara, dirigida para a melhoria do texto” [1].
Assim que a transcrição terminar, o texto estará pronto para ser conferido pelo colaborador, que autorizará ou não o seu uso, para publicação integral ou parcialmente. Após sua utilização, o material coletado deverá ser arquivado, com a identificação das fitas, ou CDs, fazendo-se cópias para serem guardadas em diferentes locais, como medida de precaução. Acompanhando o material, estarão listas e fichamentos indicativos de data, local, tema e situação da entrevista.

Sempre que possível o oralista deve facilitar a formação de arquivos centrais. Existem associações dispostas a receber doações que, em obediência às regras comuns da área, podem se beneficiar do trabalho de pesquisa preocupados com o progresso da história oral (MEIHY, 2005, p. 186).

Cornélio Procópio e a História Oral

O projeto Evocações do Passado: memórias de procopenses surgiu em 2009, com o Grupo de Pesquisa EDITEC (Educação em Diálogo: Sociedade, Arte e Tecnologia), da Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Cornélio Procópio (UTFPR-CP), e que conta hoje com 16 pesquisadores, 5 estudantes e 2 técnicos. Este projeto apareceu com o intuito de resgatar episódios e pessoas que fizeram parte da história da cidade, tendo passado por algumas etapas: a primeira foi a leitura teórica, além da informativa, em registros escritos, como as obras do professor Átila Silveira Brasil [4] e do senhor Paulo Ribeiro Dias [5], e conversas com pessoas, para a localização dos temas. Foram, portanto, realizadas pesquisas em imagens e relatos de moradores, com o objetivo de se traçar um caminho principal e não o abandonar.
Após isso, foi feito o estudo da metodologia utilizada pela História Oral, para poder se colocar em prática toda a ideia do projeto e fazer com que seus objetivos fossem cumpridos. Atualmente, a investigação encontra-se na fase das entrevistas, que estão sendo realizadas com os antigos moradores da cidade que participaram de uma forma direta ou indireta dos eventos pesquisados. Os entrevistados escolhidos moram em vários locais do município, com profissões diversificadas, favorecendo-se, assim, uma visão plural dos acontecimentos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO 


Os primeiros resultados práticos foram obtidos com a entrevista de Jair Ferreira dos Santos, bancário e escritor, nascido em Cornélio Procópio, em 30 de outubro de 1946. Radicado no Rio de Janeiro há mais de trinta anos, formado em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com uma forte influência humanística em sua formação, presenciou e narrou diversos acontecimentos relevantes para a construção de registros.
O entrevistado deu enfoque a pessoas que compunham a atmosfera cultural procopense nos anos de 1950 e 1960. Entre os nomes que lembrou, na Rádio ZYR5 de Cornélio Procópio, foram citados Ciro Tucunduva, Marcos Alberto e Mercedes Pavani, esta atriz e cantora em radionovelas. Ressaltou que no radioteatro os atores eram amadores, não recebiam salário, e que nos feriados religiosos as rádios transmitiam música clássica (cultura letrada), o que também acontecia nos saraus realizados nas casas das pessoas, que mesclavam o clássico e o popular. A emissora de rádio era um meio de difusão cultural, que alcançava também a elite intelectual, devido à leitura de poemas, comentários de livros e novelas com falas literárias.
Na ZYR5 apresentaram-se grupos como o Regional do Cristalino, do qual faziam parte, além dos músicos liderados pelo violonista Cristalino Ferreira (pai do entrevistado), o cantor Moura e sua mulher, e eram usados instrumentos como piano, cítara, violão e bateria. Seu repertório musical era composto por samba, marcha, fox, baião e xote. O informante destacou também a importância dos locutores de futebol e dos inúmeros programas de auditório, do qual o mais renomado era o do radialista Adelzon Alves, que depois se transferiu para o Rio de Janeiro, trabalhando na Rádio Globo, naRádio Nacional e na Rádio MEC.
Jair Ferreira enfatizou ainda a importância do professor Argemiro (que tinha uma academia de música, cujo destaque era o acordeom), dos grupos de rock e das orquestras, como a Tangará, da qual participavam os senhores Sebastião Cunha, Ubirajara Medeiros e José Marques Godinho (o crooner). Lembrou ainda do sucesso de um típico representante da cultura de massa, o Tião da Mulinha, também do músico americano Booker Pittman, que morou na zona do meretrício procopense; da professora Marúcia Albino, cantora lírica; do Salvador, que tocava trompete; e do Zelão (José Ângelo) Sottile, advogado, dublê de músico. Ainda foram citados locais de disseminação cultural e de entretenimento, como a Aliança Francesa (com as professoras Marta Dequêch e Lelita Martens de Oliveira) ─ que representava a cultura letrada, em oposição à cultura de massa, “americanizada”; o Colégio das Irmãs (Coleginho), que possuía um Conservatório Musical e depois a Faculdade de Música São Domingos; o Salão Dom Bosco (Paroquial), onde ocorriam apresentações de piano, de ballet e de peças alegóricas, além de festivas quermesses e bailinhos; os cinemas (Cines Avenida e São Luiz), com grande público, os quais funcionavam como ponto de encontro. Os parques de diversão e os circos, esperados ansiosamente, eram montados no pátio da estação ferroviária, com músicas, brinquedos, trapézio, globo da morte e animais, atraíam toda a cidade, assim como as famosas quermesses, nas escolas e diferentes salões, com bandas, jogos de víspora, correio elegante, comes e bebes, e sorteios.

CONCLUSÕES 


A história oral como metodologia de pesquisa moderna, usada para resgatar memórias e construir documentos via registros orais, mostra-se eficiente ao analisarmos os resultados já obtidos com o projeto Evocações do Passado: memórias de procopenses. Analisando a história por diversos pontos de vista, procurando construir um registro amplo e confiável. Além do escritor Jair Ferreira dos Santos foram colhidos depoimentos do jornalista e radialista Luiz Antônio Morgante, da senhora Ana Maria Basso Cardin e da professora Marilu Martens Oliveira. O projeto está em andamento e outras entrevistas serão realizadas. Fotos e panfletos de arquivos pessoais, de caráter histórico, estão sendo reunidos para dar origem à história coletiva. Não queremos apenas relembrar fatos e nomes, mas o sentido do que é ser um procopense, atingindo o objetivo de todos conhecerem um pouco mais sobre esta cidade que acolhe a todos de braços abertos, com o seu Cristo Rei.

REFERÊNCIAS 


[1] MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de história oral. 5. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
[2] THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Tradução Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
[3] MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 25.ed. Petrópolis,RJ: Vozes: 2007.
[4] BRASIL, Átila Silveira. Cornélio Procópio: das origens e da emancipação do município. Cornélio Procópio, Pr: [s.n.t.], 1988.
[5] DIAS, Paulo Ribeiro. Cornélio Procópio – a história em prosa e verso. Londrina, Pr: Gráfica e Editora Modelo, 2000.

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