UM
PASSADO QUE SE TORNA PRESENTE – Projeto Evocações do Passado Memórias de
Procopenses
Joel
Leon Slipack [GP: Editec/Voluntário] 1, Profa. Dra. Marilu Martens
Oliveira [orientador] 2, Lucas Siqueira Ribeiro [colaborador] 3
1COELT/UTFPR,
Cornélio Procópio, Brasil
2COELC/UTFPR,
Cornélio Procópio, Brasil
3COELT/UTFPR,
Cornélio Procópio, Brasil
Câmpus
Cornélio Procópio
Universidade
Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR
Avenida
Alberto Carazzai, 1640
joelslipck@hotmail.com,
marilu@utfpr.edu.br, lucas_ribeiro7@hotmail.com
Resumo:
Ante as transformações sociais e culturais, a história do povo de determinada
região que não é registrada de forma documental perde-se conforme as gerações
vão se renovando. Com isso surge a necessidade de se registrá-la, antes que ela
se modifique e sua veracidade seja comprometida. Segundo Meihy [1], por ser uma
história chamada de “tempo presente” é também conhecida como uma “história
viva”. O intuito do projeto é promover entrevistas individuais e/ou coletivas
com cidadãos que participaram, de modo direto ou indireto, dos eventos
pesquisados e recolhendo documentos e imagens de caráter histórico de arquivos
pessoais, para dar origem à história coletiva. Desse modo, o registro
documental produzido a partir das coletas de dados do Projeto tem a pretensão
de ser divulgado principalmente na forma de livro, com um ou mais volumes. Para
tanto, terá como embasamento teórico textos de José Carlos Sebe B. Meihy [1], Paul
Thompson [2] e Maria Cecília de Souza Minayo [3], que nos levarão a primar pelo
rigor científico, pela objetividade e pela clareza, colaborando para a
preservação e a construção da história de Cornélio Procópio-PR, dando-se ênfase
aos aspectos culturais, esportivos e políticos, assim como aos fatos
pitorescos.
Palavras-chave:Historia
Oral; Memória; Moradores Antigos; Cornélio Procópio.
Before the social and cultural transformations, the people’s
story of a given region, which is not registered in documentary form, is lost
as the generations go renewing itself. With this comes the need to register it
before it is modified and its accuracy is compromised. According Meihy [1],
because the story to be called "preset time" is also known as a
"living history". The aim of the project is to promote individual
interviews and/or conferences with citizens who participated, either directly
or indirectly, of the events surveyed and collecting documents and images of
historical character of personal files, to give rise to collective history.
Thus the documentary record, produced from data collections of the Project,
pretend to be mainly in book form, with one or more volumes. This will require
either theoretical basis texts of José Carlos Sebe B. Meihy [1], Paul Thompson
[2] and Maria Cecilia de Souza Minayo [3], who will lead us to excel at
scientific rigor, objectivity and by the clarity, contributing to the
preservation and construction of the Cornélio Procópio’s history, giving
emphasis to the cultural, sports and politicians aspects, and also in singular
events.
Keywords: Oral History; Memory; Old Residents; CornélioProcópio.
INTRODUÇÃO Documentando
via História Oral
A
história oral é uma metodologia de pesquisa moderna, usada para construção de
documentos via registros orais [1]. Consiste em realizar entrevistas gravadas
com indivíduos ou grupos que viveram ou testemunharam acontecimentos,
conjunturas, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. Essas
entrevistas fazem parte de um conjunto de documentos de tipo biográfico
(memórias, documentos escritos, imagens, autobiografias e outros tipos de
registro) que permitem compreender como indivíduos viveram e/ou interpretam
acontecimentos e situações,envolvendo um grupo ou a sociedade em geral. Isso
torna o estudo da história mais concreto, facilitando a apreensão do passado
pelas gerações futuras e a compreensão das experiências vividas por outros.
A
história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela lança a vida
para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis
vindos não só dentre os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo.
Estimula professores e alunos a se tornarem companheiros de trabalho. Traz a
história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade.
Ajuda os menos privilegiados, e especialmente os idosos, a conquistar dignidade
e autoconfiança. Propicia o contato – e, pois, a compreensão – entre
classes sociais e entre gerações.
E para cada um dos historiadores e outros que partilhem das mesmas
intenções, ela pode dar um sentimento de pertencer a determinado lugar e a
determinada época. Em suma, contribui para formar seres humanos mais completos.
Paralelamente, a história oral propõe um desafio aos mitos consagrados da
história, ao juízo autoritário inerente a sua tradição. E oferece os meios para
uma transformação radical no sentido social da história (THOMPSON, 1992, p. 44).
A operação prática da história oral é
iniciada com um projeto, o qual indicará o sentido que o trabalho deve tomar,
prevendo com detalhes, todas as etapas que serão desenvolvidas no decorrer da
pesquisa.
A
existência de um projeto elaborado é essencial para o bom desenvolvimento da
história oral. Todo projeto de história oral deve se iniciar pela determinação
dos objetivos e exige uma pesquisa prévia. Antes de se iniciar a organização do
projeto, deve-se ler, instruir e preparar o campo de trabalho (MEIHY, 2005, p.
173).
Portanto,
somente após prévias informações sobre o tema é que será elaborado o projeto,
atentando-se às peculiaridades inerentes a uma investigação que lida com a
oralidade. Segundo Meihy (2005), o projeto é sempre composto por duas partes
complementares: os fundamentos temáticos e teóricos, além da parte operacional.
Na primeira, é preciso estabelecer a temática e o título do trabalho,
apontando-se para uma direção, mostrando-se o ramo da história de que se irá
tratar. Destacar o tema é fundamental. Pode-se admitir uma ou mais
justificativas, ficando clara a relevância do projeto e as explicações que
amparam o assunto. Isso é necessário para evitar trabalhos que tratem as
entrevistas apenas como meras entrevistas, que, após a gravação, terão sua
finalidade esgotada. Precisam ser definidas hipóteses de trabalho e também o
grupo a ser entrevistado, estabelecendo-se parâmetros para identificação, dos
indivíduos que serão entrevistados. “Devem ser feitos cortes racionalizados,
tais como: abordar só as mulheres ou só os homens; apenas os mais velhos; os
que, nos casos de migração, saíram primeiro e receberam depois os outros” [1].
Foi assim que optamos pelos moradores antigos de Cornélio Procópio, que
vivenciaram o crescimento da cidade e, concomitantemente, participaram ou
souberam de fatos nela ocorridos.
Ressaltamos que
há vários tipos de entrevista, classificadas de acordo com uma forma de
organização ─ sondagem de opinião, semiestruturada, aberta ou em profundidade,
focalizada, projetiva [3] ─ sendo nossa opção a semiestruturada.
METODOLOGIA
A parte operacional
tem início com a realização das entrevistas, que devem ser agendadas. É
necessário, então, esclarecer ao entrevistado os aspectos da pesquisa e aquilo
que será tratado. No ato da entrevista, antes do início da sessão, é preciso
deixar claro que a gravação será conferida e nada será publicado sem sua
autorização. É de fundamental importância que todos os equipamentos sejam
testados previamente e, sempre que possível, o ambiente onde a entrevista for
realizada deve ser tranquilo e agradável. Este é o “trabalho de campo”, que se
segue à fase exploratória da pesquisa. Para Minayo, “o trabalho de campo deve
ser realizado a partir de referenciais teóricos e também de aspectos
operacionais” [3]. Alerta ainda que, por se tratar de pesquisa social, não se trata
de campo neutro, transparente, os pesquisadores interferindo
no conhecimento da realidade.
Após a execução
da entrevista, passa-se do estágio da gravação oral para o do código escrito.
Há pessoas que defendem a transcrição absoluta, registrando-se erros de
linguagem e até mesmo ruídos (telefone, relógio, latidos, miados, chiados,
murmúrios, risos). Outras defendem que as ideias, conceitos e emoções contidos
são mais importantes que a palavra em si. “O que deve vir a público é um texto
trabalhado no qual a interferência do autor seja clara, dirigida para a
melhoria do texto” [1].
Assim que a
transcrição terminar, o texto estará pronto para ser conferido pelo
colaborador, que autorizará ou não o seu uso, para publicação integral ou
parcialmente. Após sua utilização, o material coletado deverá ser arquivado,
com a identificação das fitas, ou CDs, fazendo-se cópias para serem guardadas
em diferentes locais, como medida de precaução. Acompanhando o material,
estarão listas e fichamentos indicativos de data, local, tema e situação da
entrevista.
Sempre
que possível o oralista deve facilitar a formação de arquivos centrais. Existem
associações dispostas a receber doações que, em obediência às regras comuns da
área, podem se beneficiar do trabalho de pesquisa preocupados com o progresso
da história oral (MEIHY, 2005, p. 186).
Cornélio Procópio e a História Oral
O projeto Evocações do Passado: memórias de procopenses surgiu em 2009,
com o Grupo de Pesquisa EDITEC (Educação em Diálogo: Sociedade, Arte e
Tecnologia), da Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Cornélio
Procópio (UTFPR-CP), e que conta hoje com 16 pesquisadores, 5 estudantes e 2
técnicos. Este projeto apareceu com o intuito de resgatar episódios e pessoas
que fizeram parte da história da cidade, tendo passado por algumas etapas: a
primeira foi a leitura teórica, além da informativa, em registros escritos,
como as obras do professor Átila Silveira Brasil [4] e do senhor
Paulo Ribeiro Dias [5], e conversas com pessoas, para a localização dos
temas. Foram, portanto, realizadas pesquisas em imagens e relatos de moradores,
com o objetivo de se traçar um caminho principal e não o abandonar.
Após isso, foi
feito o estudo da metodologia utilizada pela História Oral, para poder se
colocar em prática toda a ideia do projeto e fazer com que seus objetivos
fossem cumpridos. Atualmente, a investigação encontra-se na fase das
entrevistas, que estão sendo realizadas com os antigos moradores da cidade que
participaram de uma forma direta ou indireta dos eventos pesquisados. Os
entrevistados escolhidos moram em vários locais do município, com profissões
diversificadas, favorecendo-se, assim, uma visão plural dos acontecimentos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os primeiros
resultados práticos foram obtidos com a entrevista de Jair Ferreira dos Santos,
bancário e escritor, nascido em Cornélio Procópio, em 30 de outubro de 1946. Radicado
no Rio de Janeiro há mais de trinta anos, formado em Comunicação pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com uma forte influência
humanística em sua formação, presenciou e narrou diversos acontecimentos
relevantes para a construção de registros.
O entrevistado deu
enfoque a pessoas que compunham a atmosfera cultural procopense nos anos de
1950 e 1960. Entre os nomes que lembrou, na Rádio
ZYR5 de Cornélio Procópio, foram citados Ciro Tucunduva, Marcos Alberto e
Mercedes Pavani, esta atriz e cantora em radionovelas. Ressaltou que no
radioteatro os atores eram amadores, não recebiam salário, e que nos feriados
religiosos as rádios transmitiam música clássica (cultura letrada), o que
também acontecia nos saraus realizados nas casas das pessoas, que mesclavam o
clássico e o popular. A emissora de rádio era um meio de difusão cultural, que
alcançava também a elite intelectual, devido à leitura de poemas, comentários
de livros e novelas com falas literárias.
Na ZYR5 apresentaram-se grupos como o Regional do Cristalino, do qual faziam
parte, além dos músicos liderados pelo violonista Cristalino Ferreira (pai do
entrevistado), o cantor Moura e sua mulher, e eram usados instrumentos como
piano, cítara, violão e bateria. Seu repertório musical era composto por samba,
marcha, fox, baião e xote. O informante destacou também a importância dos
locutores de futebol e dos inúmeros programas de auditório, do qual o mais
renomado era o do radialista Adelzon Alves, que depois se transferiu para o Rio
de Janeiro, trabalhando na Rádio Globo, naRádio Nacional e na Rádio MEC.
Jair Ferreira enfatizou
ainda a importância do professor Argemiro (que tinha uma academia de música,
cujo destaque era o acordeom), dos grupos de rock e das orquestras, como a Tangará, da qual participavam os
senhores Sebastião Cunha, Ubirajara Medeiros e José Marques Godinho (o crooner). Lembrou ainda do sucesso de
um típico representante da cultura de massa, o Tião da Mulinha, também do
músico americano Booker Pittman, que morou na zona do meretrício procopense; da
professora Marúcia Albino, cantora lírica; do Salvador, que tocava trompete; e
do Zelão (José Ângelo) Sottile, advogado, dublê de músico. Ainda foram citados
locais de disseminação cultural e de entretenimento, como a Aliança Francesa
(com as professoras Marta Dequêch e Lelita Martens de Oliveira) ─ que
representava a cultura letrada, em oposição à cultura de massa, “americanizada”;
o Colégio das Irmãs (Coleginho), que possuía um Conservatório Musical e depois
a Faculdade de Música São Domingos; o Salão Dom Bosco (Paroquial), onde
ocorriam apresentações de piano, de ballet e de peças alegóricas, além de
festivas quermesses e bailinhos; os cinemas (Cines Avenida e São Luiz), com
grande público, os quais funcionavam como ponto de encontro. Os parques de
diversão e os circos, esperados ansiosamente, eram montados no pátio da estação
ferroviária, com músicas, brinquedos, trapézio, globo da morte e animais, atraíam
toda a cidade, assim como as famosas quermesses, nas escolas e diferentes
salões, com bandas, jogos de víspora, correio elegante, comes e bebes, e sorteios.
CONCLUSÕES
A história oral
como metodologia de pesquisa moderna, usada para resgatar memórias e construir
documentos via registros orais, mostra-se eficiente ao analisarmos os
resultados já obtidos com o projeto Evocações
do Passado: memórias de procopenses. Analisando a história por diversos
pontos de vista, procurando construir um registro amplo e confiável. Além do
escritor Jair Ferreira dos Santos foram colhidos depoimentos do jornalista e
radialista Luiz Antônio Morgante, da senhora Ana Maria Basso Cardin e da
professora Marilu Martens Oliveira. O projeto está em andamento e outras
entrevistas serão realizadas. Fotos e panfletos de arquivos pessoais, de
caráter histórico, estão sendo reunidos para dar origem à história coletiva.
Não queremos apenas relembrar fatos e nomes, mas o sentido do que é ser um
procopense, atingindo o objetivo de todos conhecerem um pouco mais sobre esta
cidade que acolhe a todos de braços abertos, com o seu Cristo Rei.
REFERÊNCIAS
[1]
MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de
história oral. 5. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
[2]
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história
oral. Tradução Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
[3]
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa
social: teoria, método e criatividade. 25.ed. Petrópolis,RJ: Vozes: 2007.
[4]
BRASIL, Átila Silveira. Cornélio
Procópio: das origens e da emancipação do município. Cornélio Procópio, Pr:
[s.n.t.], 1988.
[5] DIAS, Paulo Ribeiro. Cornélio Procópio – a história em prosa e verso. Londrina, Pr:
Gráfica e Editora Modelo, 2000.
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