domingo, 17 de maio de 2015

DONA OLINDA CUNHA DE LIMA, ENTRE RISOS E LÁGRIMAS, UMA VIDA BEM VIVIDA - Parte 1 - Risos e lágrimas: uma vida bem vivida

 Discorrer sobre memória é sempre prazeroso, envolvente e emocionante, pois para César Ades (2004, p. 236), em texto de informantes a Eclea Bosi: “Cada relato remete a situações em que o depoente se envolveu em interação com outras pessoas, reflete as crenças que adquiriu em grupo, se ancora temporalmente aos eventos que fizeram notícia e qualificaram a época […]”. E, em um outro fragmento, na mesma página: “A vida `privada´ constitui o testemunho de um tempo coletivo […]” .
Assim é que, procurada para fornecer informações sobre o “Caso Creuzinha”, pois seu marido, Sr. Octávio Rodrigues de Lima, ferroviário nascido em 1922 em Jacarezinho/PR, foi quem denunciou o desaparecimento da garotinha - informação corroborada pelo radialista Hélio Claudino Pestana (2014) - e acompanhou a mãe da pequena nas primeiras buscas, Dona Olinda, prendas do lar, surpreendeu pela vivacidade e alegria com que traçou um painel da pequena Cornélio Procópio, para a qual se mudou logo que se casou, em 1955.
Orgulhosa da ascensão profissional do esposo, pessoa correta, bom companheiro e excelente pai, que tocava violão e violino na igreja e em um grupo musical, Dona Olinda puxou os fios da memória para tecer um relato saboroso, bordado com risos e lágrimas, vibrante como ela, uma senhorinha apelidada de Barbie, pelos belos cabelos aloirados, vaidosa, gentil e amorosa, sempre cercando sua família - marido e os filhos Paulo Roberto e Sander Otávio - de muitos cuidados.
Sr. Otávio Lima: cabo do exército
D, Olinda, Sr. Otávio e Paulo Roberto
Sua primeira residência, alugada, era numa “pirambeira”, para baixo da linha do trem, onde ela foi muito feliz, apesar dos poucos recursos oferecidos pela nova cidade. Na época, o Sr. Matos era o chefe da estação e incentivou seu marido a fazer cursos, inclusive em Curitiba, que lhe possibilitaram melhorar na carreira. Inicialmente ele “colocava fogo” na máquina, depois foi galgando posições: cargos no escritório, agente de estação especial, chefe do armazém de café, conseguindo dar uma vida bastante confortável aos seus familiares.
Urbe pequena, seus filhos, que estudaram no Coleginho (Colégio Nossa Senhora do Rosário), brincavam de pipa, em campinhos de terra, iam aos circos e parques, que aqui aportavam e também aos de Londrina, ao cinema, passeavam de trem, brincavam nos balanços do Bosque Municipal Manoel Júlio de Almeida, iam ao Cristo tomar sorvete e apreciar o por do sol, quando pequenos. Ressaltou que as pessoas eram amigas, solidárias e que não havia distinção, todos frequentavam os mesmos lugares de lazer: pobres e ricos, brancos e negros, idosos e crianças.
Contou que passava a roupa com ferro à brasa, pois a luz era muito fraca e a chamavam de tomate, devido à cor avermelhada; a água para beber era de poço, porque a vinda da rua era salobra. Para serviços de saúde, usavam o médico da Rede Ferroviária, Dr. Montenegro, mas quem fez suas cesáreas foi o Dr. Paulo Amarante. Também iam à Clínica Carazzai e eram muito bem atendidos pelo Dr. Acir Ivo Carazzai. O dentista da família era o Dr. Miguel Caznok, cujo consultório ficava na Av XV de Novembro, nos altos da antiga Casa Americana.
Lembrou-se que logo que chegaram na cidade, todos os habitantes faziam suas compras nas pequenas mercearias, e sua família privilegiava a do Sr. José Ayub, depois a do Sol Nascente e a Quitanda Sumi. Só bem depois é que vieram os Super Mercados, quando tudo passou a ser mais distanciado, informal. Sente saudade de quando ia, por exemplo, à livraria e papelaria Casa Marival, onde comprava material escolar e brinquedos para os filhos, e era atendida pelos donos, Sr. Hernani e dona Lelita, ou pela gerente Maria Francisca, que conversavam com ela, sabiam de suas preferências, e era uma relação de amizade. O mesmo acontecia com o farmacêutico Celso Vieira, dono da Farmácia Santa Inês.
Seus filhos cresceram e tomaram outros rumos. Paulo Roberto, bancário, hoje aposentado, trabalhou na Gerência de Comunicação e Mobilização Social do Banco Brasil. Alegre e festeiro como Dona Olinda, participou de desfiles das escolas de samba de Cornélio e reside em Londrina. Seu irmão, Sander Otávio, atua na área de comunicação, trabalhando em emissoras de rádio e como Mestre de Cerimônias em eventos na região de Palmas/PR.
Os filhos de D. Olinda: Paulo Roberto e Sander Otávio
D. Olinda, Sr, Otávio e Paulo Roberto no restaurante do hoje Hotel Aguativa
O festeiro Paulo Roberto, preparado para o Natal
Dona Olinda cuidou de Sr Octávio, com quem ficou casada por 34 anos, e que ficou adoentado por bastante tempo. Após seu falecimento, foi amparada pelo amor dos filhos. Mas, devido ao temperamento alegre, seguiu em frente, participando de festas e bailes, tendo vencido um concurso de valsas na cidade de Londrina. 
Participaram da entrevista, realizada em 24/02/2015, os pesquisadores Profa. Dra. Marilu Martens Oliveira, Profa. Zenaide Aparecida Negrão, Prof. Luiz Adriano Morganti (GP EDITEC/UTFPR-CP)

3 comentários:

  1. Otimo relato e bem desenvolvido. O trabalho desses professores merece o maior respeito, pela dedicação, pelo dialogo, pela lembrança. Um pouco da história por quem a viveu intensamente. (servio)

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  2. Esse jovem Moacir era meu tio, estava eu aqui procurando conhecer esta história. Minha mãe conta ela e diz que minha avó ficou enlouquecida vom a história pois mataram meu tio.

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  3. Olá. Vc pode entrar em contato comigo pelo Facebook?

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