Indagada
sobre a Chacina do Cadeião, também conhecida como O caso Creuzinha,
Dona Olinda emocionou-se ao relatar os acontecimentos, caindo em
lágrimas. Na época dos fatos – junho de 1962, seu marido era o
chefe do armazém da Rede Ferroviária e uma mulher, com a menina de
uns 5 anos (a menor (Cleuza Ramos, conhecida como Creuzinha), e
outros “andantes” fizeram um fogão na frente do armazém, perto
do muro. Enquanto a mãe da Creuzinha saiu, talvez para ir ao
banheiro, um homem (que depois se soube era Sebastião Vieira da
Silva) , negro, que tinha uma filha da idade da garota,
aproximadamente, saiu com as duas e não voltou. A progenitora ficou
desesperada, chorando muito e Sr, Octávio, vendo seu estado,
resolveu ajudá-la a procurar a garota, mas não a encontraram.
Depois ele a levou ao necrotério, na garupa de sua bicicleta Hélbia
para fazer o reconhecimento do corpo, que havia sido encontrado no
Macuco, bairro da zona rural de Cornélio. Ao ver a filhinha naquele
estado,quase desmaiou e teve que ser socorrida.
Segundo
Dona Olinda, que esteve lá acompanhada pelo filho Paulo Roberto e
por uma vizinha, formigas passeavam pelo corpinho. A garotinha era
bonitinha, clarinha, cabelos curtinhos, meio amarelinhos, com um
vestidinho sujo, e estava bem inchada (o carinho de Dona Olinda
aparece no uso dos diminutivos). Lembrou-se que o assassino, chamado
de “tarado” por todos na época, foi preso – parece que em
Maringá - quando pegava o trem e voltava para enterrar o corpo que
havia largado lá no Macuco, pois “doía seu coração” ao pensar
naquilo, conforme disse aos policiais. Relatou ainda que ele fez um
torniquete e foi apertando o pescocinho, depois abusando da menina,
tendo judiado muito dela, cujo corpo estava cheio de sangue e
hematomas, apresentando um grande sinal no pescoço. Indagada sobre o
pai da menina, não soube responder, visto que ninguém falou sobre
ele. Acrescentou ao relato que as mulheres da zona de prostituição,
que ficava no quarteirão da cadeia, participaram ativamente do
assédio ao prédio e ao assassino, e gritavam: “sai daí, monstro!
Não precisava ter feito isso! Nós estávamos aqui!”. Que elas
berravam, choravam e jogavam pedras nas paredes e janelas da cadeia.
E que também foram elas que ajudaram a realizar o velório e o
enterro da Creuzinha, que virou santinha. Várias vezes o relato foi
interrompido pelas lágrimas de Dona Olinda.
Informou,
também, que ouviu a longa entrevista que o radialista Hélio
Claudino fez com Sebastião, o tarado, que narrou com detalhes seu
crime, e que seu marido esteve nas proximidades da cadeia, tendo lhe
contado que o povo ameaçava invadir o prédio, com pedras, tijolos e
facão, pois queria tirar o “monstro” de lá e fazer justiça. As
pessoas queriam “castrar o monstro”. “Foi muito triste, doía
muito”. E que após os primeiros tiros ele saiu correndo e foi para
casa, apavorado, e que ela, de lá, ouvia os tiros e morava bem
distante (perto do novo Colégio Castro Alves).
Um
jovem, Moacir, que morava a uns três quarteirões da sua casa, foi
morto por um tiro e seu corpo jogado numa caminhonete, transportada
não sabe por quem. Muita gente teve seu corpo jogado por cima do
muro do cemitério, segundo comentavam na época. Soube também que
morreu um rapaz, mecânico de carro, lá perto da caixa d´água,
assim como um deputado, do coração, emocionado pelos
acontecimentos, e que houve muitos feridos graves e vários ficaram
paralíticos.
O caso teve tal repercussão, que até sua mãe, que morava em São
Paulo, ficou sabendo do caso e telefonou para ela, para saber se tudo
estava bem. É uma página da história de Cornélio que Dona Olinda,
pessoa delicada e sensível, nunca gostaria que tivesse sido
escrita.
D. Olnda |
D. Olinda com as pesquisadoras Marilu e Zenaide |
D. Olinda com os professores Marilu, Zenaide e Luiz Adriano, pesquisadores do GP EDITEC / UTFPR-CP |
Participaram da entrevista, realizada em 24/02/2015, os pesquisadores:
Profa. Dra. Marilu Martens Oliveira, Profa. Zenaide Aparecida Negrão, Professor
Luiz Adriano Morganti (GP EDITEC/
UTFPR-CP).
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